Alvo de interesses eleitorais, laudo de Caso Flávio inocenta enteado de Arthur Neto

 Alvo de interesses eleitorais, laudo de Caso Flávio inocenta enteado de Arthur Neto
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Por Paula Litaiff

Em meio a acusações de candidatos a prefeito de Manaus nas eleições deste ano contra o enteado de Arthur Virgílio (PSDB) e filho da primeira-dama Elisabeth Valeiko, Alejandro Valeiko Molina, 31, foi inocentado no caso envolvendo o assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos, 42, ocorrido no ano passado, conforme apontou o Laudo de Perícia do Instituto de Criminalística do Amazonas, emitido no dia 19 deste mês.

O documento foi expedido após mais de um ano do início das investigações do crime que ficou conhecido como “Caso Flávio”, e depois de consecutivos pedidos da defesa de Alejandro para que a Justiça considerasse as informações técnicas do laudo no processo judicial. As primeiras audiências do caso foram marcadas para o próximo mês, novembro.

Flávio, engenheiro elétrico, foi encontrado morto no dia 30 de setembro de 2019, após ter ficado em uma festa na casa de Alejandro, no condomínio Passaredo, no bairro Tarumã, na zona Oeste de Manaus.

O ex-soldado do Exército Maic Parede e o policial militar Eliseu da Paz assumiram o crime. Além dos quatro, também, estavam na festa amigos de Alejandro, Elielton Magno, 22, e Edvandro Júnior, 31.

Em depoimento à polícia, Maic e “Da Paz” – como são conhecidos – disseram que invadiram a festa na casa de Alejandro para tentar “dar um susto” nos participantes, e que durante o episódio, feriram Alejandro e entraram em luta corporal com Flávio, que era lutador de artes marciais.

Na confusão, o ex-soldado e o policial militar informaram que transportaram Flávio, ainda vivo, da casa de Alejandro para outro lugar. As informações foram confirmadas no Laudo de Perícia Criminal.

Com base em depoimentos de outras testemunhas e elementos encontrados no local da festa e no lugar onde o cadáver de Flávio foi encontrado, um terreno baldio no bairro Tarumã, o laudo criminal confirmou que no dia 29 de setembro – um dia antes do corpo do engenheiro ser achado – o policial militar invadiu a casa de Alejandro.

O laudo

Um trecho do documento relata com detalhes como ocorreu a invasão à casa de Alejandro Molina:

“Às 22h30, Da Paz entra na sala do imóvel e verbaliza “cadê teu amigo”? ou “Cadê meu dinheiro?” ou “Cadê o dinheiro, cadê a droga?”. Mayc permanece na área externa, próximo à porta. Magno, sentado no sofá da sala, vê a chegada do invasor com balaclava armado (Da Paz), ato contínuo, empreende fuga pela porta em direção à rua”.

O documento revela o início das agressões entre os invasores e participantes da festa:

Ao atravessar a porta, é interceptado por um segundo invasor (Mayc) na calçada externa, é atingido por duas vezes com instrumento cortante (arma branca) na região dorsal, sendo lesionado (item “6.1.2” do tópico “ELEMENTOS TRAUMATOLÓGICOS”), tendo conseguido se desvencilhar e seguir até a portaria do Condomínio Passaredo, onde pediu ajuda e permaneceu até a chegada de equipe médica.”

Em outro parágrafo, o laudo pericial mostra que Alejandro foi agredido:

“Alejandro sentado na cadeira próximo à mesa da sala, ao lado de Flávio, vê o invasor com balaclava armado (Da Paz), que vem em sua direção e, com a arma de fogo, lhe desfere golpes na cabeça, causando ferimento em sua região parietal (item “6.1.3” do tópico “ELEMENTOS TRAUMATOLÓGICOS”). Percebe a presença do segundo invasor (Mayc) na área externa e vê Magno empreendendo fuga e sendo interceptado por aquele. Vê Flávio sendo conduzido coercitivamente pelos invasores para área externa em direção à garagem”.

Relato dos peritos confirmam que Maic e Da Paz transportaram Flávio para outro lugar:

“Às 22h47, o veículo Toyota Corolla (PHY-8178) provavelmente alcançou o terreno baldio, situado à margem esquerda da Estrada do Tarumã, de coordenadas geográficas 2o59’42.3” S, 60o02’51.9” O (item “7.2 Local Mediato” do tópico “ELEMENTOS ESPACIAIS”), onde Flávio tivera as suas roupas removidas com o uso de instrumento cortante (arma branca) (item “6.2.4 Remoção de vestes” do tópico “ELEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS”), sendo tais vestes descartadas no outro lado da rua, dentro da vegetação do local. Ato contínuo Flávio foi levado ao Local Imediato (item “7.1 Local Imediato” do tópico “ELEMENTOS ESPACIAIS”)”.

Ainda segundo o laudo pericial, o engenheiro foi agredido diversas vezes até morrer:

“Às 22h, 50, durante a ação, Flávio, amordaçado com fita adesiva silver tape (item “6.2.3 Amordaçamento” do tópico “ELEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS), foi arrastado sobre superfície rígida e áspera (item “6.2.6 Arrastamento” do tópico “ELEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS) e sofrera múltiplas agressões físicas produzidas por instrumento de natureza contundente na região da cabeça, além de asfixia mecânica por sufocação direta e indireta, provavelmente por golpes de artes marciais, sendo atingido ainda por 07 (sete) ferimentos produzidos por instrumento de natureza perfurocortante (arma branca): 02 (dois) superficiais na região dorsal, 02 (dois) na região da coxa esquerda, 01 (um) na região deltoidea direita e 02 (dois) na região abdominal (à esquerda) (item “6.1.1 do tópico “ELEMENTOS TRAUMATOLÓGICOS”)”

Por último, os peritos apontam as causas físicas que levaram Flávio Rodrigues à morte:

“No local imediato (terreno baldio), Flávio, já ferido, poderia ter caminhado e rastejado sobre o solo argiloso e encharcado (itens “6.2.5 Contato com solo encharcado” e “6.2.7 Manchas de sangue” do tópico “ELEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS), tombando sobre o solo em decúbito ventral, vindo a óbito em decorrência da anemia aguda proveniente das lesões na região abdominal que atingiu as alças intestinais.”

Atualmente, o ex-soldado do Exército Maic Parede e o policial militar Eliseu da Paz permanecem presos aguardando o julgamento.

Leia na íntegra o laudo pericial sobre o Caso Flávio

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