Observatório do Clima lança documento com medidas para reverter ‘legado tóxico’ de Bolsonaro na política ambiental

Área grilada e desmatada dentro da Floresta Nacional de Altamira, no Pará (Foto: Tasso Azevedo/OC)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – Um relatório lançado pelo Observatório do Clima em Brasília sugere medidas que podem ser adotadas pelo próximo Presidente da República para reconstruir a política ambiental do Brasil, piorada durante o governo Bolsonaro. Um dos pontos levantados pelo OC, é a existência de 20 mil garimpeiros que atuam dentro da Terra Indígena Yanomami.
A permanência dos garimpeiros dentro da TI se da por conta de uma política antiambientalista do governo. Vale ressaltar que durante essa semana, a Polícia Federal realizou operação e desarticulou um grupo responsável por operar a logística aérea dos garimpeiros que atuam dentro da T.I Yanomami, de acordo com a Polícia federal, um dos envolvidos seria o empresário Rodrigo Martins de Mello, pré-candidato a deputado federal pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.
O primeiro volume do documento conta com 62 medidas emergenciais para os primeiros cem dias do próximo presidente e pretende traçar um plano de colaboração para que o País saia da atual situação e se torne a primeira grande economia do mundo a atingir o estado de “carbonização reversa”, que é diminuir a emissão de gases que de efeito estufa e gerar emissões limpas.
O documento sugere que não só sejam zeradas as emissões, como quer que o país colabore com a negatividade em carbono. Eles propõem que essa reversão aconteça até 2045, cinco anos antes do prazo que a ciência aponta como necessário para que o mundo se torne neutro em carbono. De acordo com o relatório, a reversão ainda é possível pois “as condições do país, como uma matriz energética ainda é predominantemente renovável”.
O OC antecipa uma política necessária para a recuperação, e que precisa ser iniciada o quanto antes. “Com este documento nós começamos a traçar um mapa do caminho para as próximas duas décadas. E ele passa, necessariamente, por reverter os danos causados por quatro anos de desmonte ambiental no regime de Jair Bolsonaro”, diz Suely Araújo, especialista-sênior em políticas públicas do OC. Ela é a principal organizadora do trabalho, que teve a colaboração de mais de uma centena de especialistas de 63 organizações integrantes do Observatório do Clima.
Entregue a quase todos os pré-candidatos à Presidência, com exceção a Bolsonaro. Na distribuição do documento, a OC deixou claro o posicionamento contrário ao atual presidente. “Com Bolsonaro não há futuro para a política ambiental no Brasil”, afirma o relatório do PR Brasil 2045.
O documento lista ações em oito áreas, onde cada uma delas possui ações prioritárias para o ciclo 2023-2024 do próximo governo. São elas: Política climática e acordos internacionais; Prevenção e controle do desmatamento; Bioeconomia e atividades agrossilvopastoris; Justiça climática; Energia; Biodiversidade e áreas costeiras; Indústria e gestão urbana; Governança e financiamento da política ambiental nacional.
A maioria das propostas do Observatório do Clima depende, para sua implementação, apenas de decisão do futuro presidente, como um decreto presidencial. Um exemplo que o documento dá, seria vedar a privatização das florestas públicas, cumprindo uma lei que existe desde 2006 e poderia inibir a grilagem, principal motor do desmatamento na Amazônia.
Após a eleição, o Observatório do Clima entregará à equipe do novo governo um segundo volume do Brasil 2045, com a lista dos instrumentos jurídicos (como decretos, instruções normativas e portarias) que precisarão ser revogados pelo sucessor de Bolsonaro, bem como sugestões dos novos atos normativos para substituir os revogados e avançar na reconstrução e no aperfeiçoamento da agenda ambiental. Uma análise preliminar indica que há mais de uma centena de revogações e mudanças de regulamento a serem feitas logo no início do novo mandato presidencial. “A principal mensagem desse processo é a de que o Brasil está pronto para voltar a assumir o protagonismo que nunca deveria ter perdido na agenda de clima e olhar para o futuro mais uma vez, enquanto país”, afirma Marcio Astrini, secretário executivo do OC.
“O Brasil é maior do que o governo Bolsonaro, e em breve iremos reverter o período sombrio que atravessamos. Temos fundamentos sólidos para a reconstrução da agenda ambiental, e eles passam por uma sociedade civil ativa, pela ciência e pelo conhecimento dos povos tradicionais, que nos últimos quatro anos mais uma vez mostraram o caminho da resistência e da civilização”, finaliza.
Confira abaixo o primeiro volume do PR Brasil 2045: