‘O veto do presidente é uma violação de direitos’, diz idealizadora de projeto de combate à pobreza menstrual

 ‘O veto do presidente é uma violação de direitos’, diz idealizadora de projeto de combate à pobreza menstrual

Mulheres são obrigadas a usarem papel higiênico, panos e até mesmo jornal como absorventes íntimos. (Ricardo Oliveira/ Cenarium)

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Victória Sales – Da Cenarium

MANAUS – Com a justificativa de que a distribuição de absorventes para estudantes de baixa renda contrariava o interesse público por não existir “compatibilidade com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino”, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), vetou, nesta quinta-feira, 7, a distribuição gratuita de absorventes para mulheres de baixa renda.

Em conversa exclusiva à CENARIUM, a idealizadora do projeto “Ciclo Solidário”, Cristiana Marinho, explicou que a pobreza menstrual é uma triste realidade. “Famílias precisam priorizar a comida e não sobra dinheiro todo mês para comprar absorvente. O veto do presidente é uma violação de direitos e demonstra atraso do governo em avançar em ações que realmente importam”, explicou.

“Ao vetar a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de extrema vulnerabilidade, o presidente Bolsonaro demonstra sua enorme insensibilidade e desprezo com milhares de mulheres. O Projeto Ciclo Solidário, que atende mulheres em situação de vulnerabilidade social, estará lutando para que a bancada do Amazonas se posicione para derrubar o veto”, destacou Cristiana.

A ativista social e feminista Michelle Andrews destacou que a atitude de Bolsonaro impacta na dignidade social de quem menstrua. “Não é somente um veto. Isso só mostra o quanto o presidente está distante da sociedade e, principalmente, da realidade dessas mulheres, ele não está nem um pouco a fim de combater a pobreza menstrual no País”, destacou.

Mulher usando jornal como protetor para menstruação. (Reprodução/ Maria Ribeiro)

Veto
A decisão foi publicada no Diário Oficial da União. Jair Bolsonaro sancionou a criação do “Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual”. O projeto tinha como objetivo de atingir, principalmente, estudantes de baixa renda que estava matriculadas em escolas da rede pública de ensino.

Entre as justificativas ao presidente do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG), Bolsonaro destacou que a distribuição de absorventes para estudantes de baixa renda contrariava o interesse público por não existir “compatibilidade com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino”. Além disso, informou ainda que o Projeto de Lei (PL) não indicava fonte de custeio da aquisição dos absorventes.

Projeto em Manaus
Logo após o veto, a jornalista Nauzila Campos decidiu criar uma campanha de arrecadação de absorventes e cestas básicas para distribuir entre mulheres de baixa renda em Manaus. “Basta ser mulher, ter sororidade e empatia. A pobreza menstrual é uma realidade de todo o Brasil e em Manaus, não é diferente. Se não dá para contar com o presidente, arregacemos nós as mangas umas pelas outras”, explicou Nauzila.

A jornalista conta ainda que ainda não tem data para fazer a entrega dos absorventes que serão arrecadados. “Vamos fazer um mapeamento dos locais de Manaus onda há mais necessidade. Podem doar à vontade, sem pressa. Vamos checar com as escolas públicas de periferia essas necessidades das alunas. Professores conhecem bem essa realidade. O mapeamento deve ser a partir daí”, destacou.

“As mulheres quando se unem nunca estão sozinhas. Toda mulher é forte. Mas por trás de uma mulher forte, tem outra que também faz a diferença. Então, estou apenas fazendo meu papel como mulher que sequer imagina a realidade de alguém que não tem dinheiro para a necessidade básica que é comprar um absorvente. Precisamos nos mover com urgência”, ressaltou Nauzila.

Divulgação da campanha nas redes sociais (Reprodução/Internet)

Estudos
De acordo com o relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, publicado em maio, pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aponta que, no País, aproximadamente 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em casa, e quatro milhões de meninas não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.

Ainda segundo o relatório, cinco Estados são os que apresentam os maiores percentuais em relação ao desatendimento a itens para higiene pessoal nas escolas. São eles: Acre (5,74%), Maranhão (4,80%), Roraima (4,13%), Piauí (4,00%) e Mato Grosso do Sul (3,61%). O estudo destaca ainda que quase 90% das meninas passarão de 3 a 7 anos da vida escolar menstruando.

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