‘Muito triste e violento’, diz ambientalista sobre desmatamento na Universidade Federal do AM

 ‘Muito triste e violento’, diz ambientalista sobre desmatamento na Universidade Federal do AM

Na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), uma retroescavadeira é utilizada para auxiliar na limpeza dos restos da vegetação derrubada. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

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Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS — Uma obra em construção na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, desmatou um trecho da maior reserva florestal da cidade e ameaça animais como o sauim-de-coleira, espécie criticamente ameaçada de extinção. À CENARIUM, ambientalistas destacaram que a derrubada de árvores centenárias para a construção do bloco da Faculdade de Odontologia (FAO) é “violenta”.

A reportagem esteve no local nessa sexta-feira, 20, e constatou o cenário. A obra está orçada no valor de mais de R$ 13 milhões, é realizada pela empresa de construções Tecon e ocorre no Setor Sul, onde ficam localizados outros blocos destinados a áreas da saúde e ciências biológicas, que abrigam cursos como Educação, Fisioterapia e Zootecnia. Homens trabalhavam no local, retirando os restos do que já havia sido derrubado com a ajuda de uma retroescavadeira.

Local onde será construído prédio da Faculdade de Odontologia. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Segundo informações contidas no site da instituição, o bloco terá quatro pavimentos, medindo 4.454m² de área construída e ficará entre o prédio da Faculdade de Ciências Agrárias 2 (FCA 2) e o Restaurante Universitário (RU). O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) emitiu, em abril deste ano, uma Licença Ambiental Única (LAU) para supressão vegetal, com validade de um ano. A extensão da área derrubada, segundo o instituto, é de 0,56 hectares, equivalente a 5.600 metros quadrados. (Veja a licença ao fim da reportagem)

Ambientalistas criticam

A ambientalista Erika Laura Schloemp pontuou o impacto ambiental que a degradação poderá trazer. “Tanta planta podia ter sido translocada, ao invés de ser só derrubar tudo e picotar tudo. Isso é muito triste, muito violento. Eles ainda estão derrubando árvore, vão deixar só uma seringueira e uma sumaúma no local, mas mais de 100 árvores foram derrubadas”, disse ela.

Animais ameaçados

A também estudante do curso de Ciências Biológicas da universidade e integrante do Projeto Saium Raiclicia Nayara falou à CENARIUM sobre os riscos à espécie. O sauim-de-coleira é uma espécie endêmica restrita à região de Manaus, se estendendo aos municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara. O crescimento e desenvolvimento desordenado urbano dos últimos anos fez com que a espécie entrasse no ranking de criticamente ameaçados de extinção.

“Existem vários caminhos viáveis para minimizar os impactos que o crescimento urbano traz, mas economicamente o mais barato e fácil é simplesmente derrubar. Não faz sentido tantos projetos dentro da universidade e no mundo falando sobre educação ambiental, sobre o quão ruim o desmatamento é, e simplesmente a Reitoria fechar os olhos e desmatar para construir estacionamento? Que evolução é essa? Que proteção ambiental é essa?”, disse ela.

O projeto atua com o monitoramento de grupos dessa espécie, encontrados nos fragmentos na cidade e floresta contínua tanto em Manaus quanto nos outros dois municípios, buscando informações sobre a biologia dessa espécie. Cria ainda mudas de árvores frutíferas e de espécies pioneiras para plantio em fragmentos desmatados anteriormente visando a recuperação da área degradada.

“Dentro do próprio campus existem várias áreas que o Projeto Sauim fez o plantio e faz o monitoramento para que não ocorra a derrubada das mesmas”, complementou.

À CENARIUM, o Ipaam informou que toda licença emitida atende aos requisitos legais e que também foi emitida autorização para captura e resgate de animais silvestres da área. “Na liberação da licença são emitidas condicionantes e restrições que são monitoradas por este órgão”, disse o instituto.

Veja a licença do Ipaam:

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