EDITORIAL | Um conselho figurativo, as florestas e a economia

(Geraldo Lino/DefesaNet)
Paula Litaiff – Especial Para Revista Cenarium*
O caráter figurativo do Conselho Nacional da Amazônia Legal, criado em 11 de fevereiro de 2020, frente ao desmatamento histórico das florestas, no semestre passado, deve agravar, mais ainda, a economia brasileira, que está em sua décima recessão histórica, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Tendo como principais áreas de atuação o combate ao desmatamento, a recomposição operacional da fiscalização e a
regularização fundiária, o Conselho da Amazônia absteve-se de impedir o desmonte de órgãos de controle ambiental e calou-se para o avanço da grilagem, gerando uma imagem controversa do País a investidores externos.
Para se ter uma ideia, de janeiro a junho, a Amazônia Legal, que compreende 59% do território nacional, perdeu uma área de vegetação equivalente a mais de quatro cidades de Nova Iorque (EUA), apontaram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O déficit florestal é o maior dos últimos seis anos.
O Conselho da Amazônia, criado para atender a uma demanda publicitária externa, não foi omisso só com as responsabilidades que tomou para si. Presidido pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, com o apoio de órgãos ministeriais, o conselho fez vista grossa para atos criminosos.
Uma reportagem investigativa da Agência Reuters – uma das maiores do mundo – apontou, em julho, que Jair Bolsonaro obstruiu o sistema de multas ambientais, um dos principais instrumentos para punir aqueles que desmatam ilegalmente. A Reuters citou um acúmulo de mais de 17 mil multas, que deixaram de ser cobradas.
Com a descoberta, ativistas estrangeiros ficaram em alerta, uma vez que que a proteção da Amazônia é vital para limitar as mudanças climáticas por causa da vasta quantidade de gases do efeito estufa que a floresta absorve.
Diante de um futuro obscuro para as florestas da Amazônia, instituições de controle internacional pressionam as empresas multinacionais a retirarem ou mesmo a frearem os investimentos no País até que o governo decida agir.
Apesar de evidente, o governo Bolsonaro e os que o apoiam não querem ver o que os países desenvolvidos compreenderam há décadas: não há crescimento financeiro sem comprometimento ambiental e, sendo assim, a Amazônia é vital para a sobrevivência econômica do Brasil.
(*) Este editorial foi publicado originalmente na versão impressa de julho da Revista Cenarium
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