Projeto de pesquisadora da Ufam propõe conservação de tartarugas e turismo na Amazônia

 Projeto de pesquisadora da Ufam propõe conservação de tartarugas e turismo na Amazônia

Preservar as tartarugas e fazer girar o turismo com base no conhecimento científico é uma das propostas do projeto (Thiago Alencar/CENARIUM)

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Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma nova modalidade de turismo se une à ciência em plena Amazônia. O projeto “Manejo Participativo, Genética da Conservação e Uso Sustentável de tartarugas da Amazônia aplicando o Turismo de Base Comunitária”, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), é uma espécie de piloto que visa unir pesquisa, conservação e turismo na Comunidade Nova Esperança, área rural de Manaus. 

As tartarugas da Amazônia estão entre os animais vulneráveis já que são alvo da caça predatória praticadas em seus territórios de reprodução (Reprodução/Paramazonia)

O projeto chama atenção porque propõe tornar o turista um agente direto de transformação e manutenção do meio ambiente. Ao invés de mero espectador, o turista passa a ser um partícipe da vida natural. A convivência com projetos que propõe levar pessoas a “ajudar” comunitários, com a liberação de animais nos rios, como quelônios, por exemplo, já existem. Na região de Parintins, existe o projeto “Pé de Pincha”, mas a iniciativa que nasce no Rio Cuieiras tem uma outra perspectiva.

De acordo com a coordenadora do programa, a pesquisadora Maria Silva Viana, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Programa Biodiversa/Fapeam: CT&I para Ambiência e Biodiversidade no Estado do Amazonas, “associar o turismo comunitário e ciência, em uma comunidade tradicional, gera benefícios tanto para o ambiente como para a região, uma vez que além de promover a educação ambiental e o cuidado, com a preservação das espécies, fornece uma fonte de renda sustentável para a população local”, destacou.

Diferenças

O projeto, em gestão na Comunidade Nova Esperança, lembra o “Pé de Pincha”, mas com singularidades. Segundo a pesquisadora Maria Viana, que participou das duas iniciativas, existem diferenças: “A diferença desse projeto atual é que, além da pesquisa aplicada, nós incentivamos e orientamos o turismo de base comunitária, que já é praticado na região e damos suporte para que os comunitários pratiquem o turismo usando as espécies animais do local como atração, sem perturbar os animais e o ambiente”, detalhou.

O ‘Pé de Pincha’ é um dos projetos que acontecem na Amazônia. O ‘Manejo Participativo’ da comunidade ribeirinha Nova Esperança entra para o rol de novas iniciativas (Reprodução/Ufam)

A principal diferença entre as duas modalidades é que um leva os visitantes a conhecer o cotidiano da comunidade, seus hábitos, costumes e culturas. Em síntese, é uma prática conservacionista aplicada para manutenção e conservação de espécies vulneráveis. As tartarugas da Amazônia fazem parte desse rol. “O projeto ‘Pé de Pincha’ tem como objetivo a preservação e o manejo das espécies de quelônios, visando a manutenção desses animais na natureza, uma vez que já se encontram vulneráveis à extinção”, sintetizou Viana.

Prática

De acordo com a Fapeam, o projeto, ainda em andamento, está em fase de proteção das praias de desova e manejo dos ninhos em área de risco, transportando-os para uma incubadora em um local mais próximo da comunidade, que pode ser monitorada com mais eficiência. Esse processo diminui os riscos de predação, tanto por animais, quanto por pessoas, que retiram os ovos para consumo e para comercialização.  

Indefesas e sujeitas aos predadores naturais, as tartarugas da Amazônia ganham uma ‘mãozinha’ do projeto ‘Manejo Participativo’, na comunidade, no Rio Cuieiras (Reprodução/Ipe)

“Durante o período de desova que ocorreu desde o início de setembro até meados de outubro, localizamos e transplantamos 32 ninhos de irapuca (Podocnemis erythrocephala) e dois ninhos de cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) para a incubadora artificial, mantendo todas as características das praias naturais onde foram encontradas. Esses ninhos são identificados com um número e a data da postura, e continuarão sendo monitorados até a eclosão, que será identificada quando os primeiros filhotes emergirem dos ninhos”, afirmou Maria Viana.

Questionada pela CENARIUM se projetos como o que está sendo gerido por uma visão científica, como o “Manejo Participativo” podem se tornar uma prática mais presente no maior Estado da Amazônia, Maria Silva Viana declarou: “Sim, com certeza. É bem viável aplicar mais projetos como este para as agências de fomento e, até mesmo, para a iniciativa privada que queira financiar, associando o seu nome a propostas sustentáveis de turismo ecológico e consciente”, finalizou.

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