Primeiro trimestre de 2022 fechou com 250% mais feminicídios em Rondônia

O aumento é expressivo, pois, de 1º de janeiro a 31 de março do ano passado, apenas dois casos foram investigados como crimes de ódio por questões ligadas ao gênero (Reprodução/Yanka Romão)
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) — Assassinatos de mulheres motivados pelo ódio, os feminicídios cresceram 250% apenas no primeiro trimestre de 2022, em Rondônia, segundo levantamento feito pela Revista CENARIUM, nesta terça-feira, 26, com dados da Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec).
Foram sete vítimas nos primeiros três meses do ano: duas em janeiro, três em fevereiro e mais duas em março, sendo este último mês, igual período no ano de 2021, não houve ocorrências de feminicídio em nenhum dos 52 municípios.
O aumento é expressivo, pois de 1º de janeiro a 31 de março do ano passado apenas dois casos foram investigados como crimes de ódio por questões ligadas ao gênero.

Durante o mesmo período, o aumento da taxa de mulheres mortas de forma violenta, incluindo aqueles casos que não foram tratados como feminicídios, foi igualmente alarmante: variação de 122,22%, visto que foram 20 casos desde o primeiro mês deste ano, contra nove ocorrências no primeiro trimestre de 2021.
Os crimes de feminicídios já haviam aumentado 150% nos dois primeiros meses de 2022, de acordo com levantamento anterior, feito no final de março, pela CENARIUM.

Feminicídios por município
Neste ano, até então, a liderança tem sido da capital, com quase 30% dos registros. Ariquemes, Alto Alegre dos Parecis e Pimenta Bueno, Ouro Preto do Oeste e Jaru ficaram, cada uma, com 14,3%.
Como ficou o ranking de feminicídios

Quando o recorte é feito de acordo com a raça, quase a metade, ou seja, 42,9% eram pardas. Mulheres negras e brancas somaram o mesmo índice: 28,6% cada grupo. As vítimas tinham de 16 a 51 anos.
Já entre janeiro e março do ano passado, as únicas duas vítimas foram mortas aos 42 e 47 anos, nos municípios de Porto Velho e Ouro Preto do Oeste.

Assassinatos em geral também subiram
Quando a análise considera todas as mortes de mulheres, além daqueles casos em que os crimes passam a ser investigados ou foram solucionados como feminicídios, janeiro e fevereiro fecharam com sete vítimas, cada. Já no último mês, foram seis. Nesta lista entram os homicídios dolosos (quando há a intenção de matar); foram 13. Portanto, Rondônia teve 20 mulheres assassinadas desde o início do ano:
- Homicídios dolosos contra mulheres: 65%
- Feminicídios: 37%
Porto Velho e Ji-Paraná ficaram empatados com 25% dessas ocorrências.
Além disso, as mulheres representaram 11,2% dos assassinatos ocorridos no primeiro trimestre, no Estado: um total de 116 casos. A maioria, 39%, foi em Porto Velho. Já no ano passado, foram 83 assassinatos, dos quais sete mulheres (8,4%) foram vítimas. Ou seja, mataram mais mulheres no primeiro trimestre de 2022 do que há um ano. Naquela época, os feminicídios foram 22% dos homicídios, enquanto que, neste ano, foram 37% desses crimes.
Ji-Paraná foi o município que mais matou mulheres, comparando os dois períodos: 100% mais que em 2022; Porto Velho ficou na vice-liderança com aumento de 33%.
Exemplo bárbaro
O mais recente desfecho trágico ocorrido em Rondônia foi um clássico exemplo de feminicídio: o homem que não aceita o fim de um relacionamento e prefere ver a ex-companheira morta do que feliz com outra pessoa.
Rayane Ferreira Nascimento, de 30 anos, foi assassinada com três tiros pelo ex-companheiro, José Paula Goveia, porque ela teria se recusado a dançar com ele em uma festa. O crime aconteceu na madrugada do último domingo, 24, na zona rural de Alta Floresta D’Oeste, a quase 530 quilômetros de Porto Velho. Rayane morreu no local e outras três pessoas ficaram feridas; duas com perfurações na perna e no braço e outra vítima com uma lesão no abdômen.
José fugiu de carro, que foi identificado pela Força Tática da Polícia Militar (PM). O homem foi preso em flagrante após fugir da PM, numa perseguição que ocorreu até o perímetro urbano de Alta Floresta. A arma utilizada no crime, da qual ele apresentou Certificado de Registro Federal, foi apreendida: uma Taurus 9 milímetros. A polícia também recolheu 12 munições intactas e cinco já deflagradas.

Rayane e José Paula estavam separados há cerca de dois meses, depois de um relacionamento que durou 12 anos. A mãe da vítima revelou conversas de WhatsApp em que Rayane revelava que era ameaçada por José há pelo menos dois anos e que ele dizia não aceitar a possibilidade de vê-la com outro.