Literatura periférica: autores de dramaturgia indígena lançam ‘Os Sateré-Mawé e o Teatro dos Clãs’, em Manaus

Indígena da etnia Dessana no Rio Negro no Amazonas (Ricardo Oliveira/ Cenarium)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS – O livro “Os Sateré-Mawé e o Teatro dos Clãs”, uma obra da literatura marginal, ou periférica, será lançado, nesta sexta-feira, 3, a escritores especializados neste tipo de produção literária. Escrita pelo indígena Sateré-Mawé e doutorando em Educação na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Josias Sateré, pela pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos (Nepam/Ufam) Jalna Gordiano e pelo professor associado da universidade Renan Albuquerque, o livro aborda, por meio da dramaturgia, os desafios da migração indígena para os centros urbanos.
O evento ocorrerá no Velho Buk Café & Pub, Avenida Pirabas, 132, bairro Alvorada 2, Zona Centro-Oeste de Manaus. À CENARIUM, Josias, da Terra Indígena Andirá-Marau e o primeiro da etnia, no Amazonas, a escrever um livro como peça de teatro na história, falou sobre a história.

“Existe algo muito interessante no livro, que é sobre as habilidades de alguém que não conhece o mundo ocidental, não conhece a cidade, mas ele [o personagem] consegue, por meio da percepção da sua cultura, por meio da habilidade que ele tem de sair do problema, fazer a transição entre a aldeia e cidade”, explica Josias.
“Outro fato bastante interessante no livro é que nós vamos ver como o povo da periferia, aquele que não tem científico, mas tem o conhecimento no dia a dia, consegue lidar com a vida, os problemas e as dificuldades. Então eu internalizei esse conhecimento e tentei de uma forma bem didática, bem simples, passar pra outras pessoas que existem diferentes povos, percepções e mentes”, completou.

Literatura da periferia
Um dos autores do livro, Josias também falou sobre os obstáculos de se produzir literatura em áreas marginais, ou seja, à margem da sociedade. “Fazer literatura na periferia é um desafio, até porque nós não somos acostumados, não temos o hábito da escrita. Sabemos que nas populações indígenas a oralidade é muito forte. Então foi um trabalho inovador, fazer o livro da literatura ainda mais voltado pra dramaturgia. Queremos trazer um conhecimento novo pra quem vai ler”, disse ainda.
À CENARIUM, Renan Albuquerque reforçou a importância de apresentar a obra para além da Academia e do ambiente científico. “Hoje vai ser um diálogo, uma conversa menos acadêmica sobre o livro, justamente para o pessoal da literatura marginal, ou periférica. É um segmento literário que existe em todos os lugares, mas que sempre nos apoia. Uma literatura que é feita a partir das comunidades, da favela, da periferia, que é de onde nós viemos”, disse.

Teatro e os povos indígenas
Jalna Gordiano completou comentando o impacto que se espera que a obra tenha no atual cenário de ataques aos povos indígenas e a importância que o público da periferia conheça mais dessa literatura.
“Pra mim, principalmente nesse momento que o país está passando, de ataque aos povos indígenas, aos territórios indígenas, acho que é fundamental a gente utilizar as ferramentas que a gente tem pra lutar e defender esses povos”, explicou à reportagem.
“O meu público é periférico, o tipo de literatura que eu faço é literatura de alcance popular, não é elitista. A importância é justamente que as pessoas entendam que a literatura não é uma questão de elite, inatingível, que as pessoas possam, através desse contato, consumir a literatura e que também sirva de incentivo para a criação. Que é algo acessível não só do ponto de vista do consumo, mas também da criação”, finalizou.
