Gari é flagrado trabalhando ‘pendurado’, sem equipamentos de proteção, em viaduto de Manaus

 Gari é flagrado trabalhando ‘pendurado’, sem equipamentos de proteção, em viaduto de Manaus

O caso ocorreu nesta terça-feira, 21, e foi registrado pela REVISTA CENARIUM (Arquivo/Revista Cenarium)

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Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — Um dia após o acidente fatal com um micro-ônibus que vitimou o funcionário da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), da Prefeitura de Manaus, Domingos Santana da Silva, de 36 anos, outro profissional da mesma pasta foi visto, nesta terça-feira, 21, trabalhando sem Equipamentos de Proteção Individual (EPI) no viaduto do Complexo Viário Gilberto Mestrinho (conhecido como Bola do Coroado), no bairro Coroado, zona Leste da capital. O homem estava “pendurado” por um fio, enquanto realizava reparos na parede da via.

Nessa segunda-feira, 20, um gari morreu após ser esmagado por um micro-ônibus, o ‘Amarelinho’, em Manaus. O veículo de transporte público tombou em cima do homem que trabalhava na Avenida Buriti, no Distrito Industrial da cidade. Segundo a Polícia Militar, o motorista do caminhão, identificado como José Alves de Souza, de 63 anos, estava embriagado.

Na manhã desta terça-feira, 21, a REVISTA CENARIUM registrou um gari trabalhando no viaduto do Complexo Viário Gilberto Mestrinho sem os EPIs, que são os acessórios usados pelo servidor para prevenir acidentes ou riscos à saúde durante o exercício de uma determinada atividade. Nas imagens, é possível ver que o profissional da Semulsp estava pendurado, enquanto outros dois garis o “vigiam”.

“Eu me senti angustiado em ver o gari pendurado daquela forma. E o pior, ele estava sem segurança alguma, apenas agarrado numa corda, e isso ocorre um dia após a morte de um outro gari na Bola da Suframa”, disse um motorista, que preferiu não se identificar.

O trabalhador aparece pendurado, enquanto outros dois garis o ‘vigiam’ (Arquivo/Revista Cenarium)

Riscos
Os EPIs são obrigatórios em todas as obras, sejam elas terrestres ou de altura, sendo este último de grau de risco elevado e que pode causar lesões, fraturas ou até mesmo a morte do colaborador, segundo especialistas. De acordo com a Norma Regulamentadora No. 35 (NR-35), é considerado trabalho em altura toda atividade executada acima de dois metros do nível inferior, onde haja risco de queda.

“O trabalhador é o pilar de qualquer negócio, seja ele uma indústria, comércio ou área de serviços. Apesar da sua importância, é muito comum a falta de investimento na sua segurança e na sua saúde, o que provoca riscos muitas vezes fatais durante suas atividades nos ambientes de trabalho, infelizmente.
A ausência de análise preliminar de riscos por profissionais de SST e das medidas de proteção sejam elas coletivas e individuais, tem causado um número de acidentes cada vez maiores”, comentou Elikelly Lima, engenheira de Segurança do Trabalho, que cita ainda as atividades de trabalho em altura.

À REVISTA CENARIUM, a especialista destaca que, para a segurança dos trabalhadores, a Norma Regulamentadora No. 35 exige uma série de medidas como a permissão de trabalho, treinamentos, exames, equipamentos de proteção coletiva e individuais como linha de vida, trava queda, cinto de segurança, talabartes, capacetes, entre outros que poderão ser necessárias. A engenheira reforça ainda que qualquer queda em trabalho acima de 2 metros de altura pode ter consequências graves.

“No último dia 20 de dezembro foi amplamente divulgado na mídia a morte do gari Domingos Santana. Essa profissão é uma das que somam alto risco para segurança e saúde, pois além de executar trabalho em altura, possui contato com agentes biológicos e os trabalhadores desse ramo estão expostos a riscos de acidentes como atropelamento. Infelizmente, este trabalhador teve sua vida ceifada enquanto cumpria suas atividades em busca do seu ganha-pão”, lamentou Elikelly.

A engenheira reitera também que as legislações que protegem o direito do trabalhador ao ambiente de trabalho seguro e saudável devem ser obedecidas e o empregador que não cumpre com os seus deveres deve ser punido. “Enquanto isso não acontecer, mais vidas serão perdidas, mais famílias ficarão sem os seus entes queridos”, pontuou a engenheira Elikelly Lima.

Exames médicos
Trabalhar com altura, segundo o técnico em segurança do trabalho Racing Brito, exige ainda uma série de exames voltados a patologias que podem causar mal súbito e tontura para identificar se o colaborador está apto ou não para atuar na área.

“A pessoa que vai realizar essas atividades não pode simplesmente ter um exame normal. Ela tem toda uma bateria de exame para poder aprovar se pode trabalhar em altura, porque ela pode ter um mal súbito, tontura e acabar caindo, desmaiando. Depois que entra na empresa, o colaborador recebe um treinamento teórico e prático para então estar habilitado”, pontuou Racing Brito.

Sem retorno
A CENARIUM entrou em contato com a Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), da Prefeitura de Manaus, e solicitou uma nota sobre o caso. A reportagem também questionou se funcionários da pasta que trabalham nos reparos de viadutos não são equipados com equipamentos de proteção individual. Até a publicação desta matéria, sem retorno.

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