Desmatamento: Amazônia perdeu 3 mil campos de futebol por dia em 2022; acumulado repete pior marca em 15 anos

 Desmatamento: Amazônia perdeu 3 mil campos de futebol por dia em 2022; acumulado repete pior marca em 15 anos

Em novembro, a alta foi de 23% para o desmatamento, selando mais um recorde negativo no valor acumulado: 10.286 quilômetros quadrados (Reprodução/Internet)

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Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Nem mesmo durante o período que deveria ser um alívio para a floresta, a Amazônia deixou de arder em fogo. Ainda que com chuva em novembro, o primeiro mês do chamado “inverno amazônico”, a alta foi de 23% para o desmatamento, selando mais um recorde negativo no valor acumulado: com uma ferida maior que 10 mil quilômetros quadrados, nos primeiros 11 meses do ano. A marca é, de novo, a pior em 15 anos, como vem sendo, praticamente, a cada mês de 2022.

Toda essa destruição equivale a uma perda de floresta estimada em 3 mil campos de futebol por dia, desde 1° de janeiro. Os dados publicados nesta terça-feira, 20, são do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Novembro de 2022 fechou com 678% mais florestas degradadas na Amazônia do que no mesmo período do ano passado (Reprodução)

Devastação galopante

Só no mês passado, 590 quilômetros quadrados foram abaixo na maior floresta tropical do planeta, 23% a mais do que em novembro de 2021, quando o desmatamento atingiu 480 quilômetros quadrados. Pará, Mato Grosso e Amazonas lideram, somando 72% do desmatamento ocorrido em novembro. 

Já a soma de florestas degradadas, que são áreas afetadas pela exploração de madeira ou pelo fogo, ultrapassa 700 quilômetros quadrados. Nesse caso, o aumento é de 678% em relação a novembro de 2021.

Pará, Mato Grosso e Amazonas lideram o novo ranking de destruição da Floresta Amazônica (Thiago Alencar/CENARIUM)

Também pior dos últimos 15 anos, o acumulado dos primeiros 11 meses de 2022 ficou bem próximo da marca negativa do mesmo período do ano passado, quando uma perda de 10.222 quilômetros quadrados de vegetação foi identificada pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.

Os valores vêm subindo desde 2018, quando o acumulado chegou a quase o tamanho da capital Boa Vista. De lá para cá, a destruição só aumentou em ritmo galopante.

Índices de desmatamento acumulado na Amazônia vêm crescendo nos últimos cinco anos (Thiago Alencar/CENARIUM)

Pesquisadora do Imazon, Bianca Santos avalia que a atual realidade amazônica “é reflexo de políticas públicas ineficientes dos últimos anos”. Ela ressalta o impacto negativo gerado pelo desmatamento na corrida contra a emergência climática. 

“O Brasil já é o quinto maior emissor no mundo de gases de efeito estufa, que são os responsáveis pelas mudanças climáticas. Ao vermos esses números de desmatamento cada vez mais altos, significa que também estamos caminhando para um novo recorde nas emissões. Em 2021, o País teve a maior alta em liberação desses gases, em 19 anos, principalmente, por conta da mudança no uso da terra, que está diretamente ligada ao desmatamento na Floresta Amazônica”, lamentou a pesquisadora.

Para a pesquisadora do Imazon, Bianca Santos, o Brasil precisa avançar em políticas públicas para conservar a maior floresta tropical da Terra (Reprodução/Imazon)

Santos ainda aponta que nos Estados que lideram o novo ranking de perda de floresta há uma forte especulação sobre a mata, para a supressão dessas áreas, visando a instalação de pastos, como ocorre em Mato Grosso. 

“No Pará, municípios que já vêm sofrendo com a pressão intensa da derrubada há muito tempo, como Altamira, foram mais uma vez alvos dos desmatadores (…) só em novembro, além da terra indígena mais desmatada, a TI Apyterewa, o Estado também foi responsável por mais da metade das dez unidades de conservação que mais foram devastadas por desmatadores ilegais na Amazônia”, revelou à reportagem.

Já no Amazonas, o desmatamento detectado em novembro se alastrou por “regiões já conhecidas” pela ocupação do agronegócio, “como na região sul do Estado, na fronteira com o Acre e Rondônia, principalmente, no município de Lábreadiz a pesquisadora. “Mas a destruição da floresta também se fez presente próximo à fronteira do Estado de Roraima, dentro de áreas protegidas e terras indígenas”, destacou Bianca Santos.

Política de Estado

Eleito para um terceiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá o dever de reverter o quadro de destruição deixado por Jair Bolsonaro (PL) em seus quatro anos de governo, período em que fiscalizou apenas 2% de quase 200 mil alertas de desmatamento em todo o País, segundo a Rede MapBiomas.

Para a pesquisadora do Imazon, é possível mudar a realidade sofrida pelas populações do maior bioma brasileiro, o que envolve uma forte política de Estado no território onde, além do desmatamento, crescem as redes do crime organizado.

“É necessário um esforço mútuo e contínuo entre governo federal, estadual e instituições parceiras para reverter a atual realidade amazônica. É preciso que punições severas sejam aplicadas contra desmatadores ilegais para acabar com essa sensação de impunidade que existe atualmente. Investir em projetos de desenvolvimento sustentável e uma bioeconomia para que a região se desenvolva social, ambiental e economicamente”, concluiu Bianca Santos. 

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