EDITORIAL – Identidade e pertencimento para visibilização de desafios na Amazônia

 EDITORIAL – Identidade e pertencimento para visibilização de desafios na Amazônia

(Ricardo Oliveira/Rede Cenarium Amazônia)

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Nós, amazônidas, tivemos um ano que nos mostrou o quão necessário é compreendermos os conceitos de identidade e de pertencimento para garantirmos a visibilidade dos nossos desafios e combatermos as tentativas de silenciamento. Tivemos um ano em que acordamos com gosto de fumaça na boca e presença de resíduos sólidos nos pulmões, gerados pelos incêndios florestais criminosos ocorridos principalmente em Manaus (AM), Belém (PA) e Rio Branco (AC). Um ano que convivemos com ataques em terras indígenas (Roraima) e atentados aos guardiões da floresta (Rondônia, Acre e Pará).

Tivemos avanços, mas ainda é grande o nosso sufocamento e isso se comprova em congressos e debates sobre a região amazônica, quando ainda há a narrativa de nos colocarmos como incapazes de gerenciar nossos próprios recursos, delatada com a tentativa do presidente da França, Emmanuel Macron, de entrar na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), entre outros ensaios de volta de colonização externa e interna. Ainda tentam ser nossos porta-vozes, porque ainda não entendemos o poder da nossa força ancestral.

O escritor paraense Daniel Munduruku escreveu sobre a necessidade de se criar coragem para trilharmos um caminho de aceitação ao que há de originário em cada um de nós e fazermos o caminho de volta, da ancestralidade, para garantir a descolonização. A análise dele foi descrita na obra “Eu sou macuxi e outras histórias” (Caos & Letras, 2019), da rondoniense Julie Dorrico, que, por meio de um texto poético, busca resistir politicamente, mostrando que a memória pode ser uma grande chave da descoberta do ser e de seu empoderamento.

Toda essa reflexão é para que os amazônidas, que, muitas vezes, querem apagar a sua ancestralidade indígena, possam refletir sobre o ano que viveram e a importância de realinhar um propósito do próximo ano, a partir de suas próprias dores e não de necessidades de outro extremo do País, na tentativa de copiar uma pseudo-ideologia.

Com o resgate da identidade e a ressignificação de pertencimento, poderemos estar mais fortalecidos para passar pelos desafios do ano vindouro e poderá ser mais possível lutar por mudanças que, de fato, alterem as trilhas que tentam nos pré-estabelecer, à nossa revelia, a partir muitas vezes, das nossas fragilidades. Que 2024 seja um ano de redescoberta e de descoberta ancestral.

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O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, do mês de dezembro de 2023. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

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