EDITORIAL – ‘A terra dá, a terra quer’

Áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami vistas em sobrevoo ao longo do Rio Mucajaí, em Roraima (Fernando Frazão/Agência Brasil)
O ser humano se desconectou da natureza, e o castigo é a autodefesa da própria natureza. Essa problemática foi levantada por um dos maiores filósofos brasileiros, Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo (1959–2023), que, na obra “A terra dá, a terra quer”, convida a sociedade à reflexão sobre a relação entre o ser humano e a terra, a necessidade de uma luta pela descolonização e pela defesa dos povos tradicionais, que são aqueles que atuam na linha de frente da defesa da floresta.
Nêgo Bispo questionou o termo tradicional de “preservação do meio ambiente” e o condenou. “Não se preserva o meio ambiente, relaciona-se com ele. O meio ambiente não precisa da nossa proteção, nós que somos os inimigos do meio ambiente. Precisamos aprender a conviver com ele”, apontou o filósofo. Um pensamento que vai ao encontro da nova edição da REVISTA CENARIUM, que mostra como estamos sendo incapazes de lidar com a terra e a Terra, tomados pela selvageria capitalista.
O especial “Minamata: o veneno silencioso”, escrito pela jornalista Bianca Diniz, traz à tona a publicação de novos estudos sobre os impactos do uso ilegal de mercúrio no garimpo em regiões do Amazonas, Pará e Roraima, afetando, principalmente, os territórios dos povos Yanomami e Munduruku, gerando o risco da doença aos povos indígenas. O termo, originado em referência à cidade japonesa onde ocorreu um grave episódio de poluição por mercúrio em meados de 1950, volta a ser uma preocupação, agora, na Amazônia.
Em meio às promessas do governo federal para combater o garimpo ilegal em terras indígenas e em todo o Brasil, ainda se vê a utilização do mercúrio por pessoas exploradas por empresários que “sangram” a terra na região amazônica, na busca famigerada pelo ouro, de acordo com institutos de pesquisa informados nesta edição da CENARIUM, a partir de coletas dos anos de 2023 e 2024, que estão sendo visibilizadas só agora.
A advertência do filósofo Nêgo Bispo sobre a relação de humanos versus natureza é ancestral e, se não entendermos, nesta geração, que somos nós os nossos próprios vilões, as gerações posteriores poderão superar a nossa capacidade letal de autodestruição.
O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

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