A gente da Amazônia

Foto: Denisa Sterbova
Por Márcia Guimarães:
“Não adianta nada a gente salvar as árvores, se a gente não salva quem está salvando as árvores”. Bem disse a liderança indígena de Rondônia Txai Suruí, em entrevista à Agência Pública, em abril deste ano. Empresto as palavras dela para lembrar que a Amazônia está longe de ser um imenso tapete verde estático e inanimado. Debaixo das árvores vivem, além de fauna e flora, cerca de 30 milhões de indígenas, ribeirinhos e populações urbanas – somente na Amazônia Legal. Cidadãos e eleitores nem sempre lembrados. Com importância ambiental mundial, riquezas naturais e enormes desafios de preservação, a Amazônia está no centro do debate político nacional e internacional, mas sua gente, nem tanto.
“Não estão queimando só a Amazônia, estão queimando as pessoas de lá também”, acrescentou Txai, na entrevista. O mundo inteiro diz estar preocupado e o senso comum remete à ideia da “floresta em pé”. A Amazônia foi tema de debate nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, é notícia na imprensa internacional e tem sido frequente na boca de quem busca votos no Brasil. Mas, como manter as árvores vivas sem que as pessoas tenham, ao menos, o mínimo – saúde, educação, segurança, saneamento básico, ar puro para respirar?
O mundo precisa da Amazônia para o equilíbrio climático, o Brasil precisa manter a floresta em pé para satisfazer o mundo, os políticos querem se eleger com discurso ambiental e a gente amazônida precisa manter vivo o seu lar, para poder viver. Está tudo interligado.
É com essa perspectiva de codependência e relevância que a REVISTA CENARIUM traz, para a edição de setembro, em que no dia 5 se celebrou o Dia da Amazônia, a reportagem “Amazônia no Centro do Debate Político”. A partir dos resultados da pesquisa “Eleições 2022 na Amazônia”, feita pelo Instituto de Pesquisa Action, a pedido da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (ICS), mostramos os anseios da gente da região e o que se espera dos novos governantes. Na capa, a sumaúma “rainha da floresta” e a liderança feminina Maria Cristina Pereira da Silva, porque “a cura dessa Terra passa pelas mulheres”, como disse Txai se referindo às indígenas. Mulheres que somos, maioria do eleitorado amazônico.