EDITORIAL – A opressão às lideranças indígenas que reivindicam educação no Pará

Alunos de escola localizada em comunidade tradicional do Pará (João Paulo Guimarães/Cenarium)
A reportagem especial desta edição da REVISTA CENARIUM, que aponta a precarização do ensino público nas escolas de comunidades tradicionais do Estado do Pará, pode ter como pano de fundo reflexões extraídas de duas importantes obras para a história da educação brasileira: “Pedagogia do Oprimido” (1968), de Paulo Freire, e “Metade Cara, Metade Máscara” (2018), de Eliane Potiguara, primeiro livro publicado por uma mulher indígena de modo individualizado.
Em “Pedagogia do Oprimido”, Freire desnuda os interesses de quem trabalha propositalmente e de forma velada para precarizar a educação e fortalecer processos de dominação e de opressão de grupos com menos recursos, invisibilizando-os com o objetivo de manter processos viciados de poder e de modo a atuar para garantir a baixa escolaridade e a falta de conhecimento crítico de povos tradicionais.
Com “Metade Cara, Metade Máscara”, Eliane denuncia, em verso e prosa, a violência contra os povos indígenas e a ameaça às suas tradições por meio de projetos governamentais contra a educação indígena. A obra é considerada um canto de revolta e libertação, e aborda a diáspora indígena ao apontar que determinadas etnias brasileiras precisam abandonar suas terras para buscar em outros espaços a manutenção de sua cultura ancestral.
As obras de Freire e Potiguara têm semelhança com a luta pela democratização e manutenção da identidade de povos tradicionais do Pará desde a revogação da Lei Estadual nº 10.820, em 12 de fevereiro deste ano, que pretendia gerar um desmonte da educação indígena e quilombola sob a máscara de reformulação administrativa, com a implantação de um sistema de educação a distância e a demissão de professores das comunidades, o que não prosperou graças à luta, até física, das lideranças indígenas.
O conteúdo especial desta edição da REVISTA CENARIUM, assinada pelo jornalista paraense João Paulo Guimarães, é, sobretudo, um novo grito de socorro das lideranças dos povos tradicionais às instâncias nacionais e internacionais, que lutam para ter uma educação libertadora e temem que suas culturas sejam extintas e fiquem somente nos desenhos e textos de livros virtuais de quem nunca soube valorizá-las.
O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

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