EDITORIAL – A influência da educação conservadora no silenciamento de mulheres

 EDITORIAL – A influência da educação conservadora no silenciamento de mulheres

Mulher tem rosto coberto por lenço (Imagem gerada por Midjourney/Composição de Weslley Santos/CENARIUM)

Compartilhar:

Em meio ao hype dos debates acerca do Projeto de Lei n.º 1904/2024, que equipara o aborto ao crime de homicídio, incluindo casos de estupro, um vereador de Manaus (AM) argumentou que um “acidente”, referindo-se à violência sexual de um homem contra uma mulher, não justifica a interrupção de uma gestação, mesmo se as estupradas forem crianças. Ele deu essa declaração em um podcast, cujas apresentadoras eram duas mulheres, que concordaram para a descrição mais absurda que se pode ouvir sobre o estupro. 

Em 1949, a filósofa Simone de Beauvoir levantou o debate sobre que o “ser mulher” não está relacionado à biologia, mas a uma construção sociopolítica e psicanalítica, inaugurando problemáticas relativas às instâncias de poder na sociedade contemporânea na célebre obra “O Segundo Sexo”. A partir deste pensamento revolucionário, iniciou-se o debate sobre a igualdade de gênero com o surgimento do feminismo, o mesmo feminismo que possibilitou às duas apresentadoras do podcast de Manaus o direito de estarem à frente de um programa de entrevistas. 

É revoltante ver a ignorância e a alienação de algumas mulheres na defesa de pautas misóginas que as colocam em situação inferior, como indigentes intelectuais, ancoradas no controle masculino sob a alegação de defesa da vida, mas sem raciocinarem que a vida delas não vale de nada diante de uma discussão sobre o que é ser considerado “vida”. 

Por trás da submissão cognitiva dessas mulheres, há um passado de doutrinação ao qual foram submetidas desde a infância, sob a perspectiva religiosa de que a mulher nasceu da costela de um homem e, por isso, a ela cabe a subordinação. Simone de Beauvoir dizia, em 1949, que “não se nasce mulher, torna-se”, porque entendeu que a identidade do “ser mulher” é moldada pelo ambiente social. 

Nesta edição, a REVISTA CENARIUM aborda o Projeto de Lei n.º 1904/2024 sob o ponto de vista do valor à vida, a vida das mulheres e das meninas, por entender que quanto mais elas tiverem informação, mais terão a consciência da diferença que precisam fazer em uma sociedade que as invalida desde os tempos mais remotos, pois, como defendeu Beauvoir: “Achar-se situada à margem do mundo não é posição favorável a quem quer recriá-lo”.

O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM do mês de junho de 2024. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.

Nova edição

Leia mais: EDITORIAL – ‘O céu vai desabar’, por Paula Litaiff

    Veja Mais